19 dezembro 2007

ENTREVISTA À REVISTA SÁBADO



Respostas integrais à Revista Sábado. A entrevista editada foi publicada na Sábado na última semana de Novembro
1. O que o motivou a escrever este livro?
A necessidade de alertar contra as constantes deturpações que se fazem sobre a economia nacional, tais como sejam a nossa relação com Espanha, a nossa baixa produtividade, ou a ideia que a Educação será a nossa tábua de salvação, entre outras. Muitos dos temas do livro têm sido por mim abordados há vários anos na imprensa portuguesa. Quando há uns meses atrás o Manuel Fonseca, então editor da Guerra e Paz, me incitou a escrever um livro de economia num estilo mais descontraído, considerei que esta era a oportunidade ideal para disputar e esclarecer algumas das ideias pré-concebidas (e erróneas) que existem sobre a economia nacional.


2. Compara as previsões dos economistas com as dos empregados de limpeza. Considera que os economistas vivem desligados da realidade? E que deveriam investir mais em análises de curto prazo?

Os economistas ainda são os profissionais mais preparados para efectuar previsões económicas. Mesmo assim, temos que perceber que a economia é como a vida. Sabemos mais ou menos a tendência das nossas vidas, mas por vezes surgem surpresas. Por isso, mesmo com os melhores modelos do mundo é impossível prever com certeza absoluta a evolução da economia. É verdade que existem alguns economistas desligados da realidade, para quem os modelos têm um interesse intrínseco e próprio. Todavia, cada vez mais os economistas têm modificado as suas hipóteses de trabalho e melhorado os seus modelos e previsões, tentando-os tornar mais “reais” e “realistas”, tanto a curto como a longo prazo. Tem havido grande progresso nesta área.

3. Diz que não existem receitas mágicas para acabar com os males nacionais. Acha que os nossos governantes andam a curar doenças graves, como o défice (apontado como um dos cancros da nossa economia), com placebos (como o TGV e a OTA, que diz serem ilusões)?
Os nossos governos têm muitas vezes a tendência para curar cancros com aspirinas, ou seja, com instrumentos manifestamente desadequados às necessidades da economia. Se o défice é realmente uma doença crónica (o que certamente não é linear), então é preciso ter realmente coragem para atacar as suas componentes estruturais. Se queremos mudar o nosso modelo económico, temos que criar os incentivos necessários para efectuar as mudanças estruturais o mais cedo possível. O TGV e a OTA são ilusões, porque nunca poderão ser a catapulta de uma retoma sustentada. Nem o TGV nem a OTA resolvem os problemas estruturais da nossa economia, que se devem mais às insuficiências produtivas das nossas empresas do que às nossas (aliás, boas) infra-estruturas.


4. Se a OTA e o TGV não contribuem para o desenvolvimento nacional, que soluções propõe?
Devido aos montantes em questão, tanto o TGV como a OTA até podem contribuir a curto prazo para uma pequena recuperação económica. Com tanto dinheiro investido, mal seria se assim não fosse. No entanto, tendo em conta os elevadíssimos valores de investimento projectados, interessa perguntar: será que não conseguiríamos utilizar o dinheiro de uma forma mais eficiente? Não haveria alternativas menos dispendiosas, com benefícios mais visíveis e com resultados mais garantidos? Eu penso que sim. E se a OTA (ou Alcochete) é necessária a longo prazo para o crescimento do tráfego aéreo, o TGV é um projecto faraónico e megalómano, com uma rentabilidade muito duvidosa e que pouco contribuirá para diminuir as desvantagens da nossa situação geográfica. Estamos a pôr em risco a estabilidade e a saúde financeira do Estado e da economia nacional pelo capricho de querer ter a todo custo um comboio de alta velocidade como os nossos vizinhos espanhóis. Eu não acredito em receitas mágicas. Não sou, nem pretendo ser um economista curandeiro. No entanto, é evidente que deveríamos apostar na melhoria das nossas estruturas organizativas, na reforma da Administração Pública e no aumento da qualidade educativa. Uma fiscalidade mais atractiva também ajudaria.

Sem comentários: