31 maio 2008

NOVO CHOQUE PETROLÍFERO (2)

A manutenção de elevados preços do petróleo trará toda uma série de consequências para a economia mundial, tanto a curto como a longo prazo. A curto prazo, as consequências da manutenção de preços do crude são previsíveis: menos crescimento e mais inflação. De facto, aumentos substanciais dos preços petrolíferos geralmente reflectem-se nos preços de grande parte dos bens e serviços, gerando não só inflação mas também um agravamento dos custos das empresas. Este aumento dos custos diminui os lucros das empresas, o que leva a uma diminuição das suas actividades económicas. Consequentemente, a nível agregado, o produto nacional diminui e o desemprego aumenta. Assim, um aumento significativo e duradouro dos preços petrolíferos significa que a economia mundial irá crescer menos. Aliás, isso já está a acontecer, como todos sabemos.
Por outro lado, o aumento das pressões inflacionárias conduzirá inevitavelmente a taxas de juros mais altas, o que poderá afectar ainda mais a actual (débil) recuperação económica. Neste sentido, a retoma económica num cenário de preços petrolíferos elevados depende em grande parte da maneira como os bancos centrais reagirem à subida dos preços do crude. Como é sabido, as autoridades monetárias poderão diminuir o impacto no respectivo PIB nacional se estiverem dispostas a suportar maiores taxas de inflação a curto prazo. Porém, se as autoridades monetárias não o fizerem, então o abrandamento económico será mais acentuado. Obviamente, este cenário é preocupante principalmente se no futuro existirem desenvolvimentos políticos (como novos ataques terroristas, um agravamento da situação no Médio Oriente, etc.) que conduzam a novos aumentos substanciais do preço do crude.

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Contudo, se a curto prazo a subida dos preços petrolíferos é, sem dúvida, uma má notícia, a longo prazo a manutenção de um elevado preço do crude poderá, paradoxalmente, ter efeitos benéficos para a economia mundial. Nomeadamente, se o preço do crude se mantiver em níveis elevados durante um período de tempo considerável, então certamente emergirá um novo ímpeto para a substituição do petróleo por outras fontes de energia, as quais serão provavelmente renováveis e menos poluentes. Isto é uma boa notícia para o combate ao efeito de estufa, visto que, como a procura dos produtos petrolíferos é demasiado inelástica, somente impostos proibitivos poderão fazer com que haja uma diminuição acentuada da procura. Um aumento significativo dos preços do crude poderá assim aumentar as despesas de I&D em energias alternativas, o que poderá contribuir para uma mais rápida substituição dos produtos petrolíferos como a nossa principal fonte energética.

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Porém, não só o ambiente global beneficiaria com uma substituição do petróleo por outras fontes de energia. De facto, um dos principais benefícios da substituição do crude relaciona-se com a independência energética dos países não produtores de petróleo. Nomeadamente, o mundo ficaria muito menos dependente da volatilidade do Médio Oriente se o petróleo fosse substituído por outras fontes de energia. Isto seria bom para o mundo, mas também para o Médio Oriente, visto que nessa parte do mundo, o petróleo é mais fonte de conflito e de corrupção do que de riqueza. Em suma, a subida dos preços do petróleo não é necessariamente uma má notícia. Embora a curto prazo a subida dos preços dos produtos petrolíferos seja prejudicial à economia mundial, a longo prazo este aumento dos preços do crude poderá, paradoxalmente, contribuir para o estabelecimento de economias mais saudáveis e sustentáveis.

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