14 maio 2011

NÃO QUEREMOS SER A GRÉCIA OU A IRLANDA

Um artigo que escrevi antes de conhecermos as condições do plano de ajustamento proposto pela troika, mas que antevê algumas das medidas do pacote de ajuda:
"Na altura em que este artigo foi escrito as medidas da troika FMI-BCE-CE ainda não eram conhecidas. Por isso, podemos apenas antever o que será um bom pacote e um mau pacote de medidas para o nosso país.
O pacote de ajustamento que nos será imposto pela troika será mau para o nosso país se tiver três características: 1) se as taxas de juros forem demasiado elevadas, 2) se o prazo de pagamento for demasiado curto, e 3) se a austeridade a aplicar for demasiado cega.
Em relação às taxas de juros do empréstimo que nos será concedido, o teste é simples: se forem essas taxas as mesmas às oferecidas à Irlanda (cerca de 5,8%), as notícias são decisivamente más e é muito provável que a nossa elevadíssima dívida pública se torne insustentável. Se as taxas de juros estiverem ao nível das concedidas à Grécia (cerca de 5,2%), o problema não será tão grave, mas, mesmo assim, a dinâmica da dívida tornar-se-á muito difícil. Aliás, tudo o que estiver acima dos 4% será uma má notícia, e 3% ainda seria melhor. O problema é que, infelizmente, é muito improvável que a troika nos ofereça taxas de juros muito mais favoráveis do que as concedidas à Grécia e à Irlanda, pois os nossos parceiros europeus consideram que juros baixos seriam um incentivo à irresponsabilidade dos governos. Assim, é muito natural que nos sejam impostas taxas de juros incomportáveis para o nosso actual nível de endividamento.
Por um lado, seria bom se os prazos dos empréstimos fossem suficientemente dilatados, de forma a permitirmos o reembolso da dívida sem termos de implementar medidas draconianas. Se não forem, será difícil conseguir reembolsar o empréstimo na totalidade.
Finalmente, se a troika impuser uma política de austeridade cega e sem olhar a meios, o mais certo é que a economia nacional entre numa recessão ainda maior, o que agravará ainda mais os desequilíbrios das finanças públicas (pois as receitas fiscais cairão e os défices aumentarão nesse ambiente recessivo). Deste modo, seria bom se o próximo governo tivesse alguma margem de manobra para implementar uma política de competitividade, que incluísse não só reformas das leis laborais (já planeadas), mas também uma desvalorização fiscal, onde baixaríamos a taxa social única paga pelos empregadores em contrapartida a um corte das despesas e um pequeno aumento dos impostos ao consumo.
Moral da história: quando tivermos as propostas da troika em cima da mesa, poderemos ver qual será o nosso futuro imediato: grave recessão ou grande reorganização. Já falta pouco para sabermos a verdade."
Notícias Sábado

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