03 junho 2011

A CRISE DA DÍVIDA

O SOL fez-me algumas perguntas sobre a crise da dívida soberana europeia e a sustentabildade da dívida portuguesa. Aqui estão as minhas respostas: 

Onde errou ou está a errar a Europa na condução da crise da dívida?  
O grande erro da Europa tem sido a incapacidade e a extrema relutância de decidir o que quer que seja sobre a crise da dívida soberana. Tem havido uma grande incerteza sobre o futuro, bem como sobre a resposta das autoridades europeias, que não conseguem chegar a um acordo sobre o que fazer. Pensou-se primeiro que o paliativo dos empréstimos financeiros (com condições muito exigentes) iria chegar, mas é cada vez mais visível que não. No fundo, tenta-se ganhar tempo e tenta-se adiar o mais possível aquilo que parece inevitável, que é a reestruturação da dívida de alguns países, nos quais se encontram certamente a Grécia e a Irlanda e, quiçá, Portugal. Porquê adiar? Porque assim os bancos alemães, franceses e de outros países, poderão atenuar a sua elevada exposição à dívida dos países periféricos, e porque existe a ideia que os países que entrem em incumprimento serão estigmatizados durante muitas décadas. Ora, isso não é necessariamente verdade, desde que as coisas sejam feitas de uma forma planeada e estruturada.

Portugal está em condições de conseguir pagar o seu empréstimo ou há um risco que dentro de meses, Portugal esteja a pedir uma reestruturação da dívida ou reforço da ajuda externa?
Portugal só conseguirá pagar o seu empréstimo se: 1) a economia nacional começar a crescer a taxas superiores a 3% nos próximos anos, 2) os governos alcançarem excedentes orçamentais primários, e 3) se houver uma reestruturação da dívida pública interna (ou seja, se houver uma renegociação das parcerias PPPs). Se estas condições não forem obtidas, temo que, infelizmente, uma reestruturação da dívida portuguesa se torna inevitável. No mínimo, é muito provável que tenha de ser feito um reescalonamento dos prazos da nossa dívida pública.

1 comentário:

Carlos Pereira disse...

Álvaro, pelo que vejo na resposta que deu, vai ser muito difícil não haver reestruturação da divida. Avizinham-se tempos difíceis….
Carlos